Colonização do Oeste Catarinense
No ano de 1909, iniciou a construção de uma Estrada Férrea ligando o Estado de São Paulo ao Estado do Rio Grande do Sul. A empresa ganhadora da concessão para construí-la foi a Brazil Railway Company, presidida pelo polêmico e arrojado capitalista Percival Farquhar. A empresa foi beneficiada com 15 km de terra em cada lado da ferrovia, tendo plenos direitos na extração mineral, vegetal e colonização dessa área. Em 1917, a Brazil Railway Company e suas subsidiárias entram em regime de concordata, suas atividades passam ao controle do Estado, exceto a Southern Brazil Lumber & Colonization Company, que sobrevive até 1938, quando foi estatizada, no governo Getúlio Vargas.
Com a falência da Brazil Railwayi Company a Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande obteve os direitos da construção da ferrovia. Por volta de 1922, o Estado de Santa Catarina sancionou um parecer sobre as terras doadas à empresa, que voltariam ao poder do Estado e consequentemente seriam concedidas a empresas colonizadoras. No mesmo ano, em 24 de abril, a Empresa Chapecó-Peperi Ltda, resolveu em assembléia geral na cidade de Carazinho, iniciar a colonização do território compreendido entre o Rio das Antas e Rio Peperi-Guaçu. Território esse, que devido a não existência de estradas de acesso, constituía um pesado encargo para a colonização que iniciava.
Fundação de Porto Feliz – Mondaí
Considera-se como data da fundação de Porto Feliz o dia 20 de maio de 1922, que marca o início da colonização do extremo oeste de Santa Catarina. Nesse dia, Hermann Faulhaber, na qualidade de diretor da Empresa Chapecó-Peperi Ltda., pisou nas terras da nova colônia para determinar o local de sua sede. Partiu de Nonoai na pequena lancha de Camillo Picoli. Seguiu Rio Uruguai abaixo – que até o momento se caracterizava como uma das raras vias de passagem pelo imenso sertão estremo-oestino – acompanhado por seus homens de confiança, Jacob Schüler e Friedrich Forbrig, de New-Württemberg (hoje Pananbi), assim como o agrimensor Victor Alberto Webering e o comerciante Francisco Martins, de Palmeira das Missões.
Na foz do primeiro ribeirão, abaixo do Rio das Antas, havia, no alto do barranco, um rancho abandonado, possivelmente refúgio de balseiros. Logo em frente, na margem riograndense, vivia um único morador, Ernesto Scherer. Exímio caçador que já havia percorrido as matas de ambas as margens do Riu Uruguai, podia assim, fornecer informações preciosas.
Após dois dias de minuciosas verificações, o diretor Faulhaber juntamente com o agrimensor Webering, delimitaram as mediações da futura povoação. Ficou estabelecido que Porto Feliz se localizaria desde a desembocadura do Rio das Antas no Rio Uruguai até a desembocadura do Ribeirão Laju e, seguindo pela margem do rio, em direção ao sul, até a foz do riacho que deságua no Rio Uruguai, diante da ilha do Pão de Açúcar. Jacob Schüler, mestre carpinteiro que acompanhava o diretor Faulhaber ficou incumbido de construir a primeira edificação para ser usada como sede da administração e barracão do imigrante. Uma pequena elevação rio abaixo, foi escolhida como local.
Para evitar futuras desavenças e aproveitar todos os recursos para o sucesso do empreendimento, Faulhaber propôs ao temido Zeca Vacariano que, juntamente com seus capangas, construíssem as estradas dentro do perímetro da colônia. Como pagamento, receberia dois lotes de terra junto a sua moradia. Demonstrando muita satisfação a proposta foi aceita. Além de dominar os negócios com madeira na região, sobre Zeca Vacariano contavam-se muitas historias, inclusive responsabilizando-o pelo assalto e morte do agente e pessoas encarregadas do trem pagador que trazia o dinheiro dos trabalhadores da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande.
Visando o transporte fluvial a Porto Feliz, o diretor Faulhaber comprou do madeireiro Sezada em Nonoai, madeiras de construção, as quais deveriam ser transportadas até Porto Feliz pelo Rio Uruguai. Em Palmeira das Missões, fechou-se um contrato com o Engenheiro Webering, para medição e demarcação de 200 a 300 lotes coloniais ao redor da planejada sede. O Engenheiro também foi convidado a fazer parte da Empresa Colonizadora, sendo que possuía grande experiência em empreendimentos dessa escala, pois, havia trabalhando por longa data com o colonizador Dr. Frederico Westphalen, no município que leva seu nome.
Os Construtores
Jacob Schüler tinha a incumbência de partir imediatamente de Neu-Württemberg (Panambi) para Porto Feliz com um grupo de renomados construtores e operários a fim de ali iniciar as primeiras construções da nova colônia. Além de Schüler, o grupo era constituído por Carlos Albino Bornholdt, Adolf Fritz, Wilhelm Gaertner, Carlos Gaertner, Wilhelm Borckhartdt, Leopold Borckhartdt, Helmut Schimidt, Reinhold Schimidt, Roberto Benz, Suedmann, Lagasse, Matzenbacher e o cozinheiro Luiz de Almeida.
AS FAMILIAS PIONEIRAS
A Empresa Colonizadora, após a construção das principais edificações, viu que se tornava necessária a presença de um administrador responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos, direção dos negócios, medição de terras, construção de casas e estradas e um sistema de transportes na colônia. Dessa forma, ainda em 1922, o agrimensor Ricardo Brüggemann chegava a Porto Feliz com sua esposa Emma e seus filhos, Emmi, Ricardo, Walter e Erich. Vieram de carroça desde Zanata (Região de Seberi – RS) até o rio da Várzea, de onde vieram de barco, trazendo consigo gêneros de primeira necessidade para os seis primeiros meses. A chegada dessa família juntando-se aos carpinteiros que faziam as primeiras edificações deu um grande impulso à colonização de Porto Feliz. Inúmeras famílias chegaram com o desejo de colonizar essa terra e de prosperarem junto com ela. Várias foram às dificuldades, mas pequenas perto do sonho desses bravos homens e mulheres que fizeram de Porto Feliz o berço da colonização do estremo oeste catarinense.
COLUNA PRESTES
Em 20 de janeiro de 1925 chegou ao conhecimento dos habitantes de Porto Feliz que o exército da Coluna Prestes estaria se aproximando desta região. O medo e a incerteza do futuro e das intenções daqueles brasileiros revolucionários levaram à criação de um comitê de defesa. Comitê que negociou a passagem da coluna Prestes pela então colônia Porto Feliz. A retaguarda do exército de Prestes deixou Porto feliz nas noites de 01 e 02 de fevereiro de 1925, deixando graves conseqüências para a colônia. A imundície deixada pelas tropas, o grande número de cadáveres em estado de decomposição, contaminando o ar, a água e a má e deficiente alimentação da população deram à colônia um duro golpe: uma epidemia de Tifo.
Essa epidemia ocasionou muitos óbitos, fazendo com que muitos exploradores que aqui chegaram cheios de esperança, retornassem às suas cidades de origem ou procurassem outras regiões para fixar residência, ocasionando um retrocesso no desenvolvimento da colônia. Entretanto a noticia de que aqui estava iniciando uma nova colônia, trouxe outros imigrantes, principalmente de origem alemã e italiana, oriundos de cidades do Rio Grande do Sul. Vieram movidos pela vontade e esperanca de encontrar um futuro melhor e também pelo espírito aventureiro tão característico de nossos pioneiros. Aportaram aqui e criaram raízes e um novo município que hoje é exemplo de crescimento econômico com valorização de seus cidadãos.
Fonte: KOELLN, Arno. Porto Feliz. A História de uma Colonização às Margens do Rio Uruguai. Mondaí – SC. 1980
Organizador: Marcelo Alievi – Assessoria de Imprensa Pref. Mun. de Mondaí – Acadêmico História – UNOESC – SMO
Colaborador: Valdemar Arnaldo Bornholdt